quarta-feira, 15 de maio de 2013

palavra é ar


 



palavras
sal e mel da minha vida


sem elas
eu pouco seria


em vão - tudo em mim
se encerraria


palavras são ventos
que começam brisa
em meio ao colo
dos meus pensamentos






 pintura de Carlos Bracher. 
Interior - Ouro Preto.1972

íncubos e súcubos




Cidade
linhas retas
muitas portas
poucas abertas

Quadradas janelas
a-guardar estão
todas elas


Vermelhas
rubras
rosas
desnudas


Tudo ali
deixa rastro
de perfume
doce
e barato
mistura
dos
muitos
e vários
e todos 

os outros
que vêm
dos quartos



Estampa do vestido usado por Larissa Bracher 
como a Dezirrê do filme "Casa de Boneca"  

Juiz de Fora
2012

foto Adriana Barata

vil é o lar a violar infâncias






as flores são rosas 
rosas meninas 
o fundo é roxo 
e elas se afogam mulher 

desfolhadas 
doloridas 
sem chão e sem ar 
sem querer e ele quer 

silêncio
é segredo... 
nesse jardim 
só tem malmequer




digitalização do tecido usado para o vestido da boneca de pano 
do filme "Casa de Boneca"

 

flor a dar




Inocente de sua beleza
ela se espalha pelos pastos

Desprevenidas nos encontramos
: eu encantada, ela encantamento.


foto Web

quarta-feira, 8 de maio de 2013

garra faz ar te

                (garrafa da artista Fani Bracher)
 
Nem só de líquidos vive uma garrafa...

(... ou a arte sempre encontra um cais.)

Quando seca a última gota
do mais nobre vinho
ou da pura e mineira
cachaça:

Fani molha seus pincéis
e as cores escorregam
rios trilhos caminhos
formas fios vitrais

E eis que a garrafa
- em seu pleno estado de graça –
deixa de ser garrafa
pra conter um quê a mais 



Piau. 
Casa verde, mesa grande sob o caramanchão, tarde de sol e calor. (Às vezes, a visita de uma brisa sonolenta.)
Papo gostoso, recordações, risadas, balanço de rede e sobre a toalha de chita coberta por um plástico grosso: café e potes de tinta. (Vez ou outra, uma manga despencava madura e respingava amarelo-laranja no marrom-ocre do terreiro). Atenta a tudo, ela (a dona da verde casa) conversava, sorria e mergulhava o pincel na lata de solvente.
‘O que quer esta garrafa...? ‘ ‘Pena ter tão poucas cores...’
- pareciam ser seus pensamentos quando o pincel parava, imóvel no ar.
Pra logo depois voltar lépido e arisco em seu movimento de beija-flor (... ou beija-garrafa).
E enquanto ela deixava voar seu fino e leve pincel, a tarde passou sentada à mesa de madeira, entardecendo feliz com Miguelzinho, Lu, Fani e eu.
Volto à casa verde no dia seguinte para me despedir, e qual não foi minha surpresa quando a “garrafa vestida por beija-cores” veio pousar em minhas mãos - ofertada por Fani!

(embora só o objeto já fosse um belo e grande presente, o que ela me deu, extrapolava a matéria:
o “estar presente durante a criação, o se embebedar com o TODO que acompanha este tipo de momento único...”
É guardar ricamente nas cristaleiras da memória: uma completude de cheiros, sons, gostos, cores e carinhos! Inesquecível.)
Gracias, Fani, pela garrafa e tudo de infinito que coube dentro dela!


foto Adriana Barata