espera ativa

e se tu apareceres

e eu não estiver pronta?

e se nua me encontrares

correndo pela casa

a buscar rimas mornas

para meus versos ainda crus?

Ainda assim:

me verás poema?

Anhangá
2013

foto Adriana Barata

ver-te olhar

o que sinto
brotou em mim feito nascente.

inesperadamente
um olho d’água se abriu

: e o mundo inteiro
coube ali
- sem reticências.



(a menina desse olhar - era eu.)


Anhangá
2013

foto Adriana Barata

tapete

o tempo e o vento
brincaram de roda

Horas e Ventanias
giraram suas saias
e tanto bailaram
que no fim da festa
só o que resta
é um chão colorido

: de pedras e pétalas
- perfumado





Barbacena
2012

foto Adriana Barata

em frente

quando
- sem dúvidas -
você em mim mergulhar:
deixe meu silêncio oceânico
lhe contar do que sei

do tempo
de nós
das voltas
que deram
as águas do rios
para ao Mar
chegar...



Cabo Frio
2015

foto Adriana Barata

a dança das horas

certa hora
- será a hora certa.

serenai, ponha sentido
: estamos no curso do infinito.



Anhangá
2013


foto Adriana Barata

inaugural

Com você,

tudo será pela primeira vez.

Amanheceremos na manhã dos tempos

e o pôr do sol virá

- e será como se nunca o Sol

houvesse se posto antes.

Cabo Frio
2015 

foto Adriana Barata

ama amen Terra

filha que sou
da Terra Mãe
(Pachamama)
bebo a Via Láctea
pra me alimentar
de eternidade

e minh’alma terrena
(sedenta e serena)
nem um pingo de estrelas
deixa escorrer
pelo canto dos olhos

(Encantada, Kiko)

foto Kiko Barbosa​
julho 2015

forte fica

  
passaporte...




Anhangá
2012

foto Adriana Barata

destinação

Sou tua;
mesmo que não me conheças.
Velo o teu sono à distância de eras.

(O que nos separa
é uma janela aberta.)

E quando acordares
: amanhecerei.

Sol para ti.




Piau
2011
foto Catatau Daniel Couto

alfabetizAção

 preciso aprender a ler...




Anhangá
2011

foto Adriana Barata 

línguas de sal

ainda faço castelos de areia...
(mas não moro neles.)

faço-os, sim, para o Mar
- ao final do dia -
os saborear.

Cabo Frio
2015

foto Adriana Barata

domus

Senhor das alturas
senhor de si
meu senhorio,

minha alma sob tua asa
sente-se em casa.

(Nascemos livres e nos tecemos correntes.)



Piau
2011

foto Victor Zaiden

miudezas

é preciso coragem
para amar algo tão frágil...

(mas independe de mim
- parte é da ordem
do incontrolável)

Anhangá
2015

foto Adriana Barata

terreiro posto

  
jogo palavras no papel
como quem joga quirela no terreiro
ao contrário do passarinheiro
minha quimera é alimentar voos

Anhangá
2015

foto Adriana Barata 

tem carta pra mim?

cartas são abraços gráficos.
têm a pele de papel
e a alma manuscrita.




(Ahhhh... as cartas!
AMO cartas!
Elas têm cheiro...
Nos olham, nos falam.)

Aqui, uma raríssima carta de papai.



Anhangá
2015

foto Adriana Barata

de olhos bem fechados

fecho os olhos
e uma tela surge
sob minhas pálpebras.

sorrio:
posso projetar sonhos...





foto Fotolia/fergregori

n'água

acabou a madrugada

já lavei todas as roupas
a bacia está vazia

foram-se todas as mágoas
misturadas ao anil e à água

o céu ficou menos azul
 
mas eu
- clareei


(estou limpa e perfumada)


Reserva Sarandi
2005

foto Adriana Barata

bem me viu

das reflexões mateiras:

Gostaria que meus olhos pudessem fazer carinho...



(escrito na Anhangá enquanto eu olhava
amorosamente para este bem-te-vi.)

Anhangá
2015

foto Adriana Barata

da ordem dos prazeres

reflexões mateiras:

Descobri uma posição para afiar meu 'gancho'
que me remeteu a um tocador de cello...
Afiando e afinando o instrumento.

Um "Davi de Castro"
(marca de lâminas de gancho/foice fechada
com a melhor têmpera da região!)
Obs: amo 'serviço de roça'!



Anhangá
2015

foto Adriana Barata

quimera

deixo a luz do sol
se deitar na minha cama

que ela fecunde meu sonho...

e que a madrugada me encontre
acordada dentro dos teus olhos



Reserva Sarandi
2005

foto Adriana Barata

curvas no tempo

olho para sua fotografia em preto e branco

e vejo o príncipe perdido

nos meus sonhos adolescentes

por que não nos encontramos?

eu perdida na floresta

e você montado em seu cavalo branco?

salvar-me-ia de mim mesma

(E de toda a minha descrença.)

Anhangá

2015

foto Adriana Barata 

alforria

(fantasias me alimentam.
mesmo que
metaforicamente
sejam como leves e efêmeras hóstias.
comunhão.)

como não?!
uma filigrana de luz
fugiu do céu azulado
pontilhou o telhado
traçou leves riscados
e deitou espreguiçada
na grade da minha murada



Juiz de Fora
2015

foto Adriana Barata

valquíria

há um olhar cansado

sobre os ombros dos olhos

do menino que aí dentro mora.

há uma desesperança

brotando feito mofo

no fundo dos teus olhos.

não,

o guerreiro não dorme

- mas está cansado...

julga que o fim se acerca

não obstante sua luta.

e sua reza.

sabe da ineficácia

dos remédios mais puros;

sabe que a força dos seus rituais

não reverterá suas angústias

- não mais.

por isso cheguei.

a ti fui mandada

dizer que

: nada é verdade!

é tudo uma fase

feito faz a lua.

(e, sim: às vezes, é escura)

mas teu jaguar,

meu herói

- permanece em vigília;

tua alma continua,

inalcançável.

só precisas de ar.

então eu trago o vento

num sopro diluído.

soprarei tua nunca

(que é onde fica a boca da alma)

e tu retornarás forte

aos campos de batalha.

é só o adolescente

que vai embora;

e já era hora.

o menino fica

: receberá as glórias.

e agora

deixe-me cuidar de ti.

(ponha a cabeça no meu colo

e eu entornarei paz na tua alma.  

The Valkyrie's Vigil 

(A vigília da valquíria, do pintor Edward Robert Hughes)